História Contada - 4ª edição


A história de hoje foi contada pelo pescador e artista plástico Raquel. Ele é chamado assim pq quando era jovem, conheceu uma turista, uma hippie como eram chamados pelos nativos, que tinha o nome de Raquel e ficaram muito amigos. Um dia, quando chegou no rancho, uns amigos da Raquel olharam para ele e disseram: “olha ali, o Raquel chegou”. Na hora ficou um pouco constrangido, mas acabou pegando o apelido até hoje, como é conhecido. “No meu tempo, aqui em Garopaba, era chão batido. Não tinha quase nada. Era terra, plantação de mandioca, poucas casas de pescador e uns ranchos. Mas os ‘hippies’ vinham de longe, como uma mochila nas costas, caminhado lá de fora, na estrada, pra vir pra Garopaba. Hoje é uma cidade, antes tinha umas quatro casinhas ali no Pinguirito, uma ou duas no Ferraz, algumas no Ambrósio. Naquela época se o terreno não desse para plantar mandioca não tinha valor. A primeira Gelomel foi instalada aqui onde é a sede do IMMC e que o primeiro Hotel de Garopaba era o Hotel Lobo, que tinha 5 ou 6 quartos apenas.”, contou.


Questionado sobre como era a pesca há 30/40 anos falou: “A gente se arriscava naquelas embarcações. Se acordava cedo, umas 4 horas da manhã, se usava uma lamparina com óleo de baleia para poder iluminar porque ainda era noite. E não havia nenhum tipo de fiscalização para as embarcações. Já se pegou tubarão de 300Kg! A fartura de peixes que tinha, não se compara. O senhor que comprava o pescado chegava a usar sardinha de ‘adubo’, quando despejava um caminhão cheio por que não tinha para quem vender. Hoje, pra conseguir uma sardinha é uma tristeza”, referiu.
Raquel conta como faziam para saber sobre a condição do tempo: eles analisavam a lua e as marés. “O rancho, desde que me conheço por gente, está no mesmo lugar. O que mudou foi a praia que ficou menor. Antes se o tempo era inverno, era inverno. Ser era verão, era verão. Hoje, é este calor fora de época. O clima mudou muito. Por exemplo, o que resta na Lagoa das Capivaras, o que a natureza fez, não existe mais. Pena que deixaram chegar a este ponto, mas poderia ser maior e mais bonita se não tivessem aterrado o terreno, porque assim todo o banhado dali e a mata ciliar se perdeu. Em torno de 80% em volta da Lagoa era banhado. Hoje só tem uns 20%”, disse com olhar triste.


A habilidade para restaurar os barcos surgiu desde cedo, ainda quando era jovem. Ele aprendeu tudo sozinho. Raquel conserta embarcações de madeira e é com ela que entalha as réplicas dos barcos que aprendeu conviver desde a infância. A maior canoa de um pau só que conheceu foi do seu Jovino, da Gamboa. “Naquela época eram três homens para derrubar a árvore e trabalhar para poder carrega-la. Agora, nem é mais permitido usar uma árvore daquela por causa do IBAMA. Quando eu comecei a fazer o meu artesanato, era baseado na pesca artesanal e industrial. Naquela época haviam 52 lanchas baleeiras. Hoje só existem de 3 a 4. Meu filho agora briga comigo para eu deixar de fazer os restauros nos barcos e ficar só com as miniaturas pra fazer porque dá muito mais dinheiro. Disse que as pessoas valorizam muito hoje em dia. E eu tenho meus barcos em várias partes do Brasil e do mundo”, comentou.
Questionado sobre a Festa de Navegantes contou que foi a primeira vez na vida que embarcou. “A partir deste dia, comecei a acompanhar todas as Festas. Naquele tempo vinham muitos ônibus de fora para acompanhar a procissão. A primeira festa foi em maio, não em fevereiro quando este barco, que faz 100 anos que está em Garopaba, chegou aqui. Antes, a Festa de Navegantes era a mais movimentada de Garopaba antigamente. Naquele tempo não saía nenhuma lancha baleeira sem ser enfeitada para Nossa Senhora. Nunca tivemos nenhum acidente. Meu pai tinha medo do mar. Ele ajudava os pescadores, mas nunca embarcou. A única coisa que se levava quando se saia para o mar era a vela, caso se tivesse algum problema para a embarcação voltar. Hoje, os pescadores confiam nos motores, mas se der algum problema, mas cada lancha tem que ter colete salva vidas, documentação em dia, existe a fiscalização, mas os barcos não são enfeitados como antes”, explica.



Como Raquel gosta muito de conversar, de contar histórias, ficou de voltar outro dia com suas miniaturas para conversar com a galerinha e os adultos e mostrar um pouco de sua arte. Vamos te esperar Raquel!

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