Monitoramento Mirim Costeiro lança
Projeto História Contada
"Se eu morrer rezando morro feliz". Esta frase foi uma das dezenas de ‘lições de vida’ proferidas por Julita Paula de Oliveira, conhecida como Dona Lita, benzedeira de Garopaba (SC), na primeira edição do projeto Histórias Contadas.
Uma senhora muito carismática. Natural de Garopaba (SC), 80 anos. A benzedeira Dona Lita, foi a convidada da primeira edição do projeto História Contada. O encontro aconteceu no sábado, dia 21 de abril, às 17h, na sede do Monitoramento Mirim Costeiro, MMC, no Centro Histórico de Garopaba.
Dona Lita começou a conversa meio tímida. Aos poucos, foi ganhando confiança, e falando como era Garopaba no seu tempo de criança. A sala do MMC estava lotada. Gente por todos os lados: no tatame, em pé, nas cadeiras, na porta! Estavam curiosos para escutar a história de vida desta anciã garopabense. “Garopaba é linda! É um lugar abençoado por Deus. Antes era bom, mas agora está tudo morrendo. Quando me criei aqui não tinha sujeira. A água da Lagoa das Capivaras era limpa. Agora, o pescado está morrendo. E o povo sem o peixe, como vai ser?”, questionou D. Lita preocupada.
Questionada com relação a como vai ser o futuro da cidade, falou: “Daqui para a frente temos que fazer algo. Se houver uma administração boa na prefeitura, se as pessoas não desmatarem, não poluírem mais, ainda tem solução. É preciso cuidar mais da natureza. O povo tem que se unir para cuidar da lavoura, do mar, da cidade, para levantar Garopaba. Cada vez vem vindo mais gente morar aqui. Precisamos uns ajudar aos outros. Um futuro melhor está dentro de cada um de vocês. Está na sua mão fazer um mundo novo. Deus nos deixou a natureza, mas não para fazermos um depósito de lixo. Se cada um cuidasse do que é seu já seria diferente.”
Sobre
as novas gerações de pais e filhos D. Lita explicou: “Sou mãe de 8 filhos com
orgulho. Um faleceu. Mas tenho 48 netos, 68 bisnetos e 10 tataranetos, graças
ao Senhor!Tenho pena das crianças de hoje, porque seus pais não dialogam mais. Eles
dão um celular ou colocam na frente da televisão para distraí-los. Não há mais
conversa. As mãe têm que voltar a contar histórias a seus filhos. Ter uma nova
família, com união e respeito. No nosso 'cofre' temos que guardar amor, nossa
família, a fé e os amigos.Essa é nossa riqueza! Quando chegarmos no céu, é Deus
quem vai abrir nosso cofre e ver o que guardamos”, falou.
No
final, a generosa benzedeira fez uma oração e pediu que Deus tocasse e
abençoasse cada um que estava ali escutando a sua história e que levasse para
casa esta mensagem de amor, paz de cuidados com a natureza. “Onde existe paz não
pode haver guerra. Vamos nos abraçar mais.Vamos estar com os amigos, não trancados
em casa”, finalizou.
O
Projeto História Contada são encontros mensais, sempre abertos à comunidade,
com entrada franca, com alguns anciões de Garopaba e região, que irão contar as
histórias de como viviam antigamente, quais os seus costumes, as práticas, como
tratavam as doenças suas lendas e crenças.
História de Pescador!
Com a entrada da 'Temporada de Pesca da Tainha', o MMC convidou para a segunda edição do Projeto História Contada, três experientes mestres da pesca artesanal de Garopaba (SC): Sr. Hilário, Sr. Virgínio e Sr. Alcino para contar sobre como se desenvolveu a pesca no município.
Os anciões da lida no mar explicaram como pescavam antigamente, como construíam seus barcos e artefatos de pesca, detalharam a maneira de comercializar e conservar os peixes, assim como as lendas e as experiências místicas vividas. Embora tenham passado por muitas experiências incríveis junto à natureza, segundo sr. Hilário "hoje em dia é uma tristeza ver o mar se acabando por causa da poluição. A cada ano que passa há menos peixe", segundo o experiente pescador.
Já o sr Alcino comentou que uma vantagem hoje, na era da modernidade, é a tecnologia. “Com os sonares no mar hoje se sabe exatamente onde vai ter peixe”. Mas as grandes empresas pesqueiras capturam uma quantidade que daria para abastecer Garopaba inteira e acaba sobrando muito pouco pra gente, que pescar artesanalmente”, conta entristecido.
Apesar dos inúmeros problemas enfrentados hoje, que acabam afetando o fluxo normal da natureza, os pescadores acreditam que a educação para às crianças e encontros como este do Projeto História Contada, podem ajudar resgatar, valorizar e preservar o mar e a cultura tradicional da pesca artesanal de Garopaba. Ideia comum entre os palestrantes deste sábado, a crença de que a educação é a chave propulsora de uma mudança de cultura, só reforça o trabalho que o Monitoramento Mirim Costeiro vem desenvolvendo com as escolas municipais, com as crianças da comunidade e turistas.
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